domingo, 5 de maio de 2024

Lembrar?

Juntando tudo que fazia sentido, provavelmente menos de uma caixinha daquelas de armarinho conseguiria encher. Restaram alguns cadernos, provas com notas baixas, desenhos e rabiscos, trechos de músicas, o telefone de uns amigos, fotografias..

É, foram momentos inesquecíveis, cada um a sua maneira. Da primeira a última lembrança, posso dizer com confiança, que nada foi simples como tenho na memória. 

Algumas emoções deixaram apenas vestígios, dos quais preciso me esforçar para trazer a tona, enquanto outras me aborrecem quando menos espero, me despertam quando mais tenho sono. 

Quem dera tivesse certeza, naquele tempo, de certas palavras, ou até soubesse o que não deveria ter dito. O passado é, curiosamente, sempre maldito. É lá que vivem nossos arrependimentos, mágoas e maiores medos, mas também é pra onde, as vezes, queremos visitar e se pudéssemos correríamos como um filho perdido corre chorando aos braços dos pais.

Deixei companheiros, amores, gestos e desculpas. Deixei uma versão complicada pra entender hoje, um protótipo tosco e perdido. Deixei uma conversa não acabada, um perdão de lado, prato na pia por lavar, uma camisa de tricô, um pedido, um aviso, deixei tanta coisa que hoje Deus curou, mas não deixo de lembrar. 

Porque será que nunca deixo de lembrar? 


quarta-feira, 19 de julho de 2023

Será que perdi?

Fui deixando uma música inacabada aqui, 
um texto no rascunho ali e sumi. Me desfiz na vida, mas será que perdi?
Deixei tudo ser como deveria.
Livrei sua alma do medo, da dúvida e parti.
Outros podem pensar o contrário, espalhar o contrário, mas foi assim. 
Diante do nosso monumento da paixão, uma pilha de lembranças podres, 
confundi as coisas, o tempo, tornei tudo complicado, tudo bagunçado. 
E no domingo, quando tudo parecia ter acabado, da janela eu chamei baixinho por você.
A rua e a noite estavam vazias, com apenas as luzes da passarela.
Como eu sei que é verdadeiro?
Porque está tudo bem.
São memórias frias ao meu lado. Memórias frias ao seu lado.
Está tudo bem. 





segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Pronto

 80/20 eu te detesto. fico bolando o dia agradável pra você chegar e debochar, rir as minhas custas. não posso encostar que afasta, perguntar que ignora, sequer convidar que dispensa. 80/20 eu te detesto. fico p da vida quase toda hora com teus olhos revirando, tua reclamação e implicância constante. 80/20 eu te detesto, mas eu também gosto nos 20. e isso fode tudo, fode completo, mais que os 80 que detesto. nesses 20 eu não quero ser regrado, nem julgado. eu só gosto em 20, sabe, e em consequência queria ser gostado de volta. 

não mente. você gosta de mim? 


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Sussurro

Já imaginei essa conversa de todas as formas possíveis e impossíveis. Em todas, praticamente, chego num beco sem saída. Não consigo desenvolver uma cenário em que conte o que sinto sem que isso não torne tudo diferente.

Talvez seja melhor assim e assim consiga finalmente o que já venho querendo: te afastar. E te afastando possa respirar um ar melhor de conformação, que a distância infinita e impossível daquilo que se ama dá.

Acho que já disse mais de uma vez que te amo, mas no contexto pareceu sempre só um despretensioso gesto de sinceridade e agradecimento, como daquela vez que falei da importância da sua presença nos meus dias. Só que hoje a tentativa é de dar forma ao que nunca pareceu mais que um gesto exagerado e dramático.

É verdade, eu te amo despretensiosamente, sem vontade de experimentar a rejeição por te falar essas coisas assim, mas também te amo com um nó na garganta, uma insônia em alguns dias, do jeito inquieto, tremendo, ansioso.

Sinto muito por isso, onde um desses "muitos" é por ser um sentimento que sem querer existe, complica tudo, embora outro muito é que também O sinto mesmo, muito, e por que sinto há tantos anos já nem sei o quanto é verdade, ilusões, desencontros, medo, pois já usei todas as minhas armas e farsas e enganos pessoais para afastar os gatilhos que tenho ao pensar dessa forma. Absolutamente nada foi capaz de me tirar isso da cabeça, nem você foi capaz, pois tragicamente eu acabei amando a essência e não a forma, o que torna tudo mais segunda fase romântica e complicado.

É sempre agridoce te ver. Um misto de vontade de abraçar ao entrar pela porta, junto de uma catarse que me leva a ser chato, insuportável e enjoado. As vezes te contemplo em silêncio, em que o silêncio nessas horas costuma esconder muita coisa, mas nem tudo precisa ser revelado mesmo.

Me sinto bem e um pouco triste. Se eu pudesse escolher o que não ouvir depois de dizer tudo isso, seria tudo menos um brutal sermão. Eu sei as variantes e consequências, já pensei em todas que fui capaz. É uma recriprocidade que desejo quase como uma punição, porque sendo recíproco, mesmo no íntimo mais profundo, traria paz pra esse tempão todo desviando de te olhar mais de 3 segundos nos olhos, e eu sairia desse furacão feliz. 

Porém é razoável, com certa esperança, pedir pra que perceba que não escolhi sentir isso e que aceito esse fracasso pessoal por não ser capaz de evitar. Saiba que me esforço constantemente pra não transparecer, pisar fora da linha, cobrar - nisso eu falho - ou esperar mais do que já tenho nisso tudo, visto que já ganho um sentimento amável e incrível de volta, pois sua presença consegue me fazer feliz tanto quanto as coisas que mais importam pra mim, afinal você é uma delas.

Posso dizer com certeza que de forma alguma quero magoar ou até destruir as pontes que fizemos nesses anos, entre tantos desentendimentos, mas também queria abrir meu coração, de forma sincera, deixando no agora e nas suas mãos o que fazer com a verdade. Sei viver arrependido por ser incapaz de mudar isso, mas não saberia chegar ao fim da vida sem nunca ter te deixado saber que dentro de mim você tem sido alegria, raiva, um pouco de tristeza, diversão, saudade e amor - não necessariamente nessa ordem.









segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Encerramos aqui, pode ser?

Downtown Lights listening...

Sem muitas opções do que pedir e sem muito saco pra passar horas escolhendo o mesmo sanduíche de ontem, deixei o celular de lado e fui até a varanda. Os prédios e casas daqui de cima dão vertigem e parecem insignificantes, mas ali dentro tem um montão de histórias e dramas. Há, nessas residências, quem goste de pipoca doce, Godard, selvageria no sexo, teatro e até mesmo de remédios ansiolíticos. Ficava ali contemplando seus telhados frágeis comparando com os meus. Seus objetivos eram tantos e será que eram como os meus?

Estive diante de soluções e problemas tamanhos, de pessoas incríveis e detestáveis. A fome me deixava assim, observativo, experimentativo, abusivo e severo comigo, verdade seja dita. Alguns dos meus maiores sonhos agora já não faziam tanto sentido, porque uma parte bem minúscula de mim estava pichado feiamente em seu sorriso. Se alguém te olhasse não poderia dizer que havia um monte de drama em suas mãos por causa disso. Quem diria que esses tantos pensamentos e características suas poderiam ser refletidos em como organizar casas, pintar paredes e escolher bibelôs especiais para que a vida de outros tivessem tanto sentido, já que a sua não. Dizem que assim são os artistas, cada um escolheu descrever a arte de acordo com sua própria natureza e muitas coisas são terrivelmente assustadoras. Particularmente sempre tive sono ao tentar entender suas obras, parte por pura preguiça, parte por puro desinteresse, parte por pura descrença. Um terço para cada coisa boba que me fez descreditar nesses tantos aspirantes. Porém deixei 1% significantemente audaz para o benefício de ser surpreendido por um deles. 

Agora, diante de tantos dilemas e uma doença que me assola sem descanso, o ceticismo moral, acendo uma vela com cheirinho de romã e deixo ir toda mazela que essa vista me mostra e tanto amedronta. Talvez amanhã alugue uma bicicleta e saia por ai, fingindo estar na Holanda, acompanhando os canais, descobrindo bares, deixando recados pra você com desconhecidos - "diz pra Ridícula que eu nunca esqueci" - me agarrando a essa imponente vontade de te abraçar no meu passado. Ah! se eu pudesse apenas visitar como espectador e reviver os amores e também as dores, quem sabe tivesse a mesma sensação que tenho ao rever as últimas lembranças que de ti guardei. Principalmente aquela de que poderia ser sido de uma forma melhor, aquele seu beijo que era uma merda, em que sua língua não sabia ficar quieta e como era astronomicamente desconfortável guardar pra mim o quão inútil foi ter desejado tanto para tão pouco.

Encerramos aqui, pode ser?

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Cinzas de ouro


Digamos que você me desse mais um tempo, 
mais uma chance de falar denovo.
Eu começaria por aquilo que faltou ser dito 
e daí partiríamos, mais uma vez do fim.
Seria preciso coragem pra subir essa muralha, 
tão alta que mesmo num inverno seria possível ver o sol.
Coragem suficiente para viajar pelo mundo, sem grana,
sem comer, se conhecer, sem razões para dormir, 
pensando em você.
Vendo o que hoje é capaz de fazer, dizer e escrever, 
eu sinto que nada tenho a acrescentar e quase nada para 
imaginar, talvez nenhum desejo.
Eu gostaria que você tivesse sido mais aberta, mas
não do tipo que só joga conversa fora com esses seus lindos lábios.
Gostaria de ter aprendido mais com seus olhares, mas distante das outras pessoas, sabe.
Talvez assim você tivesse me contado seus segredos, 
o mundo que carrega nas costas por ser assim sensível.
Talvez eu pudesse ajudar de alguma forma, pois esse peso não é fácil, eu sei, 
mas nunca se sabe.
Quem sou eu pra entender sobre seus problemas e conflitos.
Sou um cego para o que você tinha a mostrar.
Fiquei esperando que me contasse e nunca perguntei. 





quinta-feira, 27 de maio de 2021

Mais uma história de quase Amor

Avril Lavigne - I'm with you
Eu costumava conversar com uma garota na escola por horas.
As vezes as coisas não iam tão bem e conversávamos fora da escola também.
Talvez ela procurasse algo novo, eu só procurava não ser o mesmo bisonho de sempre.
Hoje nem lembro do que conversávamos, se sentíamos saudade de verdade ou se já era o apego emocional em coisas impossíveis, nós éramos impossíveis.
Fui até seu encontro numa noite, podia ter dito não, podia ter passado menos perfume, podia concluir tantas coisas diferentes, ter sido diferente, mas a gente escolheu sentar num banquinho. Ela, vestida com um justo vestido preto, dobrou as pernas daquele jeito que criança senta, perninhas cruzadas, deixando uma delas encostar na minha.
A conversa nem tinha tanta importância, tanto que logo estávamos de pé num macio abraço, carinhos no pescoço com seu narizinho gelado, mordidas doces em minha orelha. Mas quando nada aconteceu, me senti estupidamente errado por não ter aceitado seu beijo, seu corpo, aquela entrega sensual.
Nem eu sabia mais se isso era um jogo, desejo ou deslize.
O tempo passou e nunca mais nos vimos, falamos ou pensamos um no outro.
Pelo menos sobre pensar não falo por mim, ainda arde.


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Um novo passante

Uma tarde estranha me tira o ânimo e eu começo a me perceber um bicho desconexo, onde não sei se fujo dos meus monstruosos pensamentos ou se busco um pote de ouro entre tanta imaginação.
É, o que seria da gente se toda frase já fosse a nossa própria explicação sobre tudo.
Um livro só de sumários, tópicos e glossários. Claro, se quiser saber sobre o que eu acho do amor pule para a página 33, meus rancores na página 50 e meus planos para a 92. 
Sem as infindas páginas de devaneios seria apenas uma lista de capítulos. 
A geometria das pessoas já começa a ficar indecifrável, suas respostas são curtas e sem propósito definido. A biologia dos gestos não tem gosto, emoção ou significado.
Há poucos românticos entre nós e esses já nem se lembram do sabor do primeiro beijo. 
Eu quis mais que te conhecer, além, ser capaz de fechar os olhos e te reconhecer. Ter detalhes sobre o dia, a noite e a madrugada. 
Eu costumava olhar janelas e pensar no amor da minha vida, ali...o que estaria fazendo? 
Então nos restou o amargo presságio, onde muitos passam e se vão para apunhalar com as armas que imploraram não existir.
Eu sou uma ponte, pode passar.



terça-feira, 22 de setembro de 2020

A verdade nem é nua nem crua

" A verdade nem é nua nem crua, sejamos sinceros."

Praticamente, como eu já imaginava, teria que responder à trocentas e mais perguntas. Tudo bem, sou o culpado das dúvidas, medos, confusões e todo tipo de mau presságio que possa vir. 

Quando um leitor pergunta ao escritor o que quis dizer, um dos dois é burro. Que constatação, que percepção poderosa. Devo ser o mais burro e, também talvez, o menos apto a ter as respostas para os enigmas que eu mesmo proponho.

Acontece que eu não sei, eu faço, não sou planos, sou realizações imperfeitas de desejos tolos. Se incomoda, assusta, faz duvidar, melhor não receber minha presença, fechar a porta e me tomar como louco.

Mas e se for isso mesmo, e daí? Não há concordar ou discordar, são só expressões sentimentais. Ou é verdade ou não é, talvez no máximo uma dúvida, mas você precisa decidir, não eu.

Esses montes de vasos quebrados procurando conserto. Eu vejo suas cicatrizes profundas e buracos abertos. Vou sair daqui e daí, pode deixar. Já que você não sabe o que fazer com as sensações, te deixo voltar à vida de esconde-esconde.

Pode me tratar como lembrança, como impossibilidade, como passado.


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Te escrevi e acho que errei

Acabei fazendo algo estúpido denovo, desculpa.
Com essa mania tosca de por em evidência meu passado, pessoas e amores,
escrevo diante de um espelho, olhando fixamente meus próprios olhos e perguntando o que quero dizer com o monte de bobagem que vivo dizendo.
Então mergulho em pequenas verdades, alguns pedacinhos de um eu que nem existe mais, que foge do tempo e que eu nem mais entendo.
Daí me perguntam porque não falei sobre isso antes e eu nem sei, sabe. 
Diante dessas questões eu sou como uma casa vazia, com luzes apagadas e um quarto no porão que não visito com medo do monstro que escondo.
E como eu sei que isso é uma verdade?
Por que essa dose de sinceridade tem dado profundos golpes em mim, pois já nem sei mais pra que dar esse melhor de mim.
Pareço um bobo quando revelo meus pensamentos pra alguém que nem me conhece e talvez nunca me entenda ou queira entender.
Mas também nem precisa entender, é assim o curso da vida. 
Um mistério que nem eu mesmo posso revelar; por não saber.
Um reflexo que nem eu mesmo quero enxergar.






domingo, 30 de agosto de 2020

Contrários

Keane - Neon River


Participo como ouvinte de um grupo de viciados, corro diariamente com deficientes, escrevo uma coluna de comédia para apáticos, discurso em convenções sobre mudez, dirijo um protótipo de carro sem motor, leio as últimas notícias para idosos com Alzheimer.

Comprei um ticket velho de um show que já passou, fico diante de um lugar que não mais existe, me pergunto o que sei e não sei responder, conheço pessoas rasas e finjo interesse, disfarço aquilo que mais me chama atenção, me calo quando quero falar, falo quando não devo.

De um jeito torpe saboto uma guerra interna, troco bens que não me pertencem, peço desculpas por erros dos outros, imagino situações como exercício, levanto um peso leve e pareço fraco, sem choro  ninguém acredita no meu coração, tudo bem.

Apago um texto ainda não escrito, invento um mundo sem dor, posiciono livros em ordem discográfica, faço top todos, nem sei mais o que quis dizer numa discussão. 

Nado à braçadas pelas areias de Fortaleza, sinto os ventos aracatis sem amor à praia, confesso pecados à alheios, os padres que lutem, isolo um fio com mais cobre, ando pela orla detestando as ondas, ponho sal em sorvete, açúcar em camarão.

Faço isso tudo sem propósito, que não me busquem ajuda, que não me amem.

Nunca vai voltar mesmo.


Lembrar?

Juntando tudo que fazia sentido, provavelmente menos de uma caixinha daquelas de armarinho conseguiria encher. Restaram alguns cadernos, pro...